Horizonte 2030

Formas de transmissão do VIH continuam a levantar dúvidas na população

Formas de transmissão do VIH continuam a levantar dúvidas na população
Carlos Monteiro

Infeciologistas ouvidos pelo Expresso garantem que continua a existir falta de literacia em saúde, em especial entre jovens e comunidades migrantes. Esta semana, desconstruímos, com apoio de especialistas, cinco dos principais mitos em torno da epidemia de VIH

O estudo “Jovens e Educação Sexual: Conhecimentos, Fontes e Recursos”, apresentado publicamente em abril, revela que o nível de conhecimento dos adolescentes e jovens portugueses sobre contracetivos e infeções sexualmente transmissíveis (IST) é, ainda, insuficiente. De acordo com os dados, cerca de 32% dos inquiridos revela um nível de informação mau ou muito mau sobre contracetivos e apenas 24,7% estão no patamar bom ou muito bom. Para combater a desinformação na área do VIH/SIDA, o projeto Horizonte 2030, criado pelo Expresso com apoio da ViiV Healthcare, dedica esta semana à desconstrução de cinco dos principais mitos em torno da infeção.

Mito 3

VIH pode transmitir-se pelo toque, suor ou respiração

Existem mitos que teimam em não desaparecer, por muito que, cientificamente, não tenham qualquer validade. As formas de transmissão do VIH continuam a gerar dúvidas e a criar preconceitos. Será que é possível ser infetado por conviver com um portador do vírus, nomeadamente pela respiração, o toque ou o suor? “Do ponto de vista científico e formal, não faz sentido”, esclarece de imediato Patrícia Pacheco, diretora do Serviço de Infeciologia do Hospital Dr. Fernando Fonseca, na Amadora. “Não faz sentido permanecer essa dúvida nas pessoas 40 anos depois do início desta epidemia, mas na realidade permanece”, lamenta.

A transmissão, assegura, acontece “exclusivamente pela via sexual, através da partilha de objetos contaminados com sangue ou através da transmissão pelo leite materno”. Tocar, beijar ou respirar o mesmo ar que alguém que seja portador de VIH não representa qualquer risco. Crenças sem fundamento científico, como estas, contribuem negativamente para a manutenção do preconceito e da discriminação em relação a quem vive com o vírus. “O estigma é, aliado à falta de literacia em saúde que a nossa população tem, o grande entrave [no combate à epidemia]”, acrescenta a especialista em infeciologia.

Desafio

Aumentar a literacia sobre VIH/SIDA

A aposta na divulgação de informação rigorosa e científica assume, por isso, um papel fundamental para diminuir a exclusão social e sobretudo para aumentar a prevenção e os diagnósticos atempados. Rosário Serrão, infeciologista e responsável pelas consultas de VIH/SIDA no Hospital de São João, no Porto, acredita que “existe ainda muita falta de informação” na população em geral, mas também entre as camadas mais jovens. “Mesmo aquilo que observo nos amigos do meu filho, na casa dos 20 e tal anos, é que as famílias não falam sobre estas coisas”, aponta. De facto, os dados apresentados em abril pelo estudo “Jovens e Educação Sexual: Conhecimentos, Fontes e Recursos” dá força a este argumento – apesar da maioria (58,6%) dos jovens inquiridos mostrar um nível de conhecimento médio sobre IST, 30,9% ocupa o patamar mau ou muito mau.

Ao nível das formas de transmissão, Patrícia Pacheco fala numa “dissociação entre o que é a evidência científica e o que são as crenças que permanecem nas populações”. No seu caso, muitos dos utentes que acompanha no Hospital Dr. Fernando Fonseca, na Amadora, são imigrantes com origem em países africanos e que, muitas vezes, apresentam níveis baixos de literacia sobre VIH. “Numa população nascida em Portugal e que tenha feito a escolaridade toda cá isso já não é uma dúvida que os mais jovens tenham”, diz, justificando com as ações de sensibilização que acontecem nas escolas.

Contrariar a desinformação é fundamental, defende, e para isso acredita ser necessário transmiti-la dentro das diferentes comunidades de imigrantes em Portugal, de forma que todos possam acedê-la. Seja por via das confissões religiosas de cada comunidade, pelos centros de emprego ou pelas empresas, a infeciologista não tem dúvidas de que é preciso aumentar “a literacia em saúde” junto de toda a população em Portugal, com especial foco em comunidades com origem em países ou regiões do globo em que a informação sobre VIH/SIDA possa não ser tão acessível.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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