Brasil Sustentabilidade

Projeto cultiva em estufas diversas espécies de plantas de todo o planeta

Ghillean Prance, que coordena a iniciativa e está no Brasil, já morou com índios e mostra preocupação com secas na Amazônia
Guillean Prance, que estudou a flora amazônica por mais de 45 anos Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
Guillean Prance, que estudou a flora amazônica por mais de 45 anos Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo

RIO- A menos de 300 quilômetros da cinzenta e chuvosa Londres, há um oásis onde se encontram plantas de diversas regiões do planeta. Árvores tropicais, mangues, ervas daninhas, vegetações típicas de regiões montanhosas dividem espaço nas estufas do Projeto Éden, uma tradicional atração turística inglesa que, agora, será reproduzida em outros países. Ex-diretor do Jardim Botânico Real, o botânico Ghillean Prance está entre os idealizadores da expansão. Nos próximos três anos, levará suas sementes para Qingdao, uma metrópole de 9 milhões de habitantes no Leste da China, e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. As aterrissagens seguintes serão na Austrália e próximo a Vancouver, no Canadá.

Prance, diretor científico do Éden, restringe ao máximo a entrada de animais em seus jardins. Do contrário, eles poderiam “distrair” os visitantes. O privilégio é restrito a polinizadores, como abelhas, e alguns que evitam pragas, entre eles sapos e lagartos.

— Vimos no Jardim Botânico Real que, mesmo quando está diante dos recifes de corais, fundamentais para a manutenção da biodiversidade no planeta, o público se interessa mais por peixes em aquários — lembra. — Precisamos mostrar como as plantas são mais importantes do que a fauna para a Humanidade. Sem elas não haveria fotossíntese, que é um processo que captura a energia solar para transformá-la na matéria orgânica da qual nos alimentamos. Nossa vida depende da flora.

Na Inglaterra, o Éden nasceu após a restauração florestal de uma área que servia como mina de argila. A equipe de Prance prepara-se para enfrentar outras condições adversas. No deserto árabe, por exemplo, conceberá um pavilhão tomado por plantas que precisam de uma quantidade generosa de umidade para sobreviver.

Nenhuma empresa ou governo brasileiro procurou os serviços de Prance. No entanto, o botânico tem uma longa trajetória no país. Vem para cá constantemente desde 1964, quando participou de uma excursão pela Amazônia. Nos 25 anos seguintes, ficou meses inteiros na região. Inaugurou cursos universitários de botânica, ecologia e etimologia, mas muitas vezes trocou a hospedagem na civilização pelo convívio com indígenas. Abrigou-se principalmente com os ianomâmis, mas teve passagens por, no mínimo, outras 15 tribos. E tem a convicção de que estas populações podem inspirar políticas públicas voltadas à conservação ambiental.

— Reconheci mais de 350 espécies de plantas. E fico impressionado com a quantidade usada pelos indígenas: algumas podem fazer parte da dieta, outras têm fins medicinais, são alucinógenas, servem como venenos para flechas... — enumera. — Mas a maior lição é sobre como estas comunidades conseguem praticar o manejo florestal. As tribos mostram como é possível construir plantações sem devastar o meio ambiente.

Os estudos não ficam restritos ao Éden da terra natal ou à mata amazônica. No Rio desde terça-feira, Prance embarca amanhã para Ilhéus (BA) e, na terça-feira, chega a Inhotim (MG), um dos maiores museus a céu aberto do mundo, e que conta com uma coleção britânica de espécies raras de todos os continentes. Será sua primeira visita ao instituto mineiro, onde fará uma palestra sobre o avanço das mudanças climáticas:

— O número de secas no Brasil aumentou muito. Uma estiagem registrada em 2005 na Amazônia foi tão forte que dizia-se que só acontece uma daquelas a cada cem anos. Mas outras quatro ocorreram desde então. As correntes de umidade enviadas pela floresta para o Centro-Sul estão mais fracas. Este efeito prejudica o ecossistema regional, a agricultura e a disponibilidade da agua nos reservatórios.